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Avaliação e Percepção de Risco da Influenza Aviária: Uma Análise Necessária

19/07/2023

A avaliação e percepção de risco são elementos fundamentais para entender e lidar com qualquer risco, incluindo o risco de influenza aviária.

Risco refere-se à probabilidade de ocorrência de um evento indesejado e aos danos potenciais decorrentes desse evento. A probabilidade de um evento ocorrer, combinada com seus possíveis impactos, determina o nível de risco.

Por outro lado, a percepção de risco envolve a forma como as pessoas percebem e interpretam os riscos, independentemente de sua probabilidade real. Um exemplo simples é com relação aos meios de transporte. Apesar do avião ser considerado um dos meios de transporte mais seguros do mundo, muitas pessoas têm mais medo de andar de avião do que de carro.

No entanto, ao andar de automóvel, as chances de perder a vida são centenas de vezes maiores do que ao andar de avião. Nesse caso, a percepção de risco está associada à falta de controle sobre a situação. Em caso de pane de uma aeronave, não temos o controle da situação, o que eleva a percepção do risco. Por outro lado, estamos familiarizados com dirigir um carro, que pode levar a uma subestimação dos riscos. Ou seja, risco e percepção de risco têm dimensões distintas.

Até o final do ano de 2021 surtos de influenza aviária altamente patogênica (IAAP) eram raros na América do Sul e nunca haviam sido notificados no Brasil até 2023. No entanto, o atual surto de IAAP H5N1 clade 2.3.4.4b está causando um impacto sem precedentes em aves domésticas e silvestres, sendo considerada a maior epidemia de gripe aviária já registrada no continente europeu e a primeira vez que é detectada em diversos países da América Latina e do Caribe.

Devido à situação epidemiológica, até poucos anos atrás, no Brasil, a introdução do vírus da IAAP por aves migratórias era considerada um evento raro ou com probabilidade muito baixa de ocorrer. Embora a probabilidade de introdução do vírus por aves migratórias ser considerada baixa, os impactos potenciais sempre foram estimados como muito altos. A doença pode se espalhar rapidamente entre aviários e entre as aves do aviário, resultando em altas taxas de mortalidade e perdas econômicas diretas significativas.

O impacto no comércio internacional com a ocorrência da doença já é sentido hoje, quando o Japão suspendeu a importação de frango do Espírito Santo e, mais recentemente, de Santa Catarina.

Assim, a baixa probabilidade, mas altos impactos, elevam o risco. Mas a pergunta a se fazer é: será que a IAAP era percebida na sociedade como uma ameaça real? Certamente que os órgãos de defesa sanitária animal brasileiros juntamente com o setor produtivo sempre alertaram sobre a importância da prevenção da doença, inclusive sendo alvo de programas sanitários específicos.

Apesar da comunicação extensiva que sempre existiu, falhas em biosseguridade em granjas eram e ainda são observadas, variando entre regiões do Brasil e, principalmente, entre os tipos de granjas. A importância da conscientização sobre doenças animais e o benefício da prevenção é um assunto muito debatido na literatura científica mundial, pois a adoção de práticas de biosseguridade, muitas vezes, pode não ser percebida como importante entre produtores.

A percepção de risco sobre a influenza aviária é um assunto que precisa ser constantemente debatido e revisto, principalmente fora dos períodos de crise. A falta de percepção de alguns segmentos da sociedade pode ser atribuída a diversos fatores, como, por exemplo:

É importante notar que a percepção do risco é subjetiva e pode variar de pessoa para pessoa. Compreender os fatores que influenciam a percepção do risco ajudam na comunicação eficaz e no desenvolvimento de estratégias adequadas para promover a conscientização e a mitigação dos riscos.

Por Luís Gustavo Corbellini, Médico Veterinário, Doutor em epidemiologia