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Análise de risco na prática do agronegócio

5 de maio de 2022

Luís Gustavo Corbellini, Médico Veterinário, Doutor em Epidemiologia

Muito se fala na ferramenta de análise de risco, mas ainda com pouca ênfase no seu uso prático. O objetivo deste artigo é explorar os aspectos práticos da análise de risco em diversas situações, bem como reforçar a importância dela para a gestão do risco no agronegócio.

A análise de risco é composta por três etapas inter-relacionadas, a citar: Avaliação do Risco, Gerenciamento do Risco e Comunicação, conforme ilustrado na figura abaixo. 

Ao observar atentamente a Figura, pode-se notar que existe um fluxo circular entre a gestão e avaliação de risco. Isso ocorre porque os riscos não são estáticos, novos podem ser identificados e eles necessitam de avaliação e gestão. Outro ponto de suma importância é o processo de comunicação, pois nada adianta identificar os riscos se os envolvidos não o compreenderem.

A avaliação de risco é a parte mais técnica e exige a presença de um avaliador de risco responsável por desenvolver o modelo para a caracterização do risco. Cabe a ele conduzir o projeto e identificar um time multidisciplinar, dado que a avaliação de risco exige investigar diversas áreas do conhecimento.

A Análise de Risco é uma ferramenta amplamente utilizada por órgãos governamentais de diversos países para avaliar os riscos da entrada de uma doença ou praga, com fins de reforçar práticas internacionais de biosseguridade. Ela também pode ser utilizada para identificar e gerenciar riscos que existem no sistema produtivo, que podem afetar tanto a saúde animal como a saúde pública, bem como gerar danos econômicos preveníveis. 

Ou seja, ela funciona como uma ferramenta de gestão de riscos de diversas naturezas, em diferentes níveis de produção e instâncias: entrada e disseminação de patógenos numa população (país, granja ou compartimento), contaminação de um alimento por um patógeno, falhas no processo de produção, falhas nos autocontroles, para citar alguns. 

Nesse aspecto será importante saber quem utiliza a análise de risco e em qual situação prática. O emprego da análise de risco geralmente ocorre de forma pontual com o propósito de caracterizar um risco que demanda uma tomada de decisão específica. Em nossa experiência já realizamos diversas análises de risco – com ênfase em avaliação de risco – com objetivos e aplicações diversas, a citar:

O que poucos sabem, no entanto, é que a ferramenta é extremamente útil para gestão contínua de riscos de diversas naturezas em várias etapas do processo de produção de alimentos. Por exemplo, considere o processo de produção de frango da fazenda à mesa. Ao longo do processo existem vários fatores (“drivers de risco”) que incidem na probabilidade de ocorrência de inúmeros riscos. 

O driver, por exemplo, pode ser a falta de treinamento levando a uma falha documental ou erro de procedimento. O risco, nesse caso, seria caracterizado pela probabilidade de ocorrência dessas falhas e o impacto gerado por elas, que podem ser multas, recall e descarte de um lote de produtos contendo algum resíduo de drogas veterinárias, por exemplo. 

Nesse sentido, a análise de risco é empregada para:

  • Identificar e avaliar drivers de risco ao longo do processo de produção;
  • Avaliar o risco, ou seja, estimar a probabilidade de ocorrência e seu impacto;
  • Gerenciar o risco: Planejar e implementar respostas ao risco; monitorar os riscos; identificar novos riscos;
  • Comunicação dos riscos às partes interessadas envolvidas.

Podemos concluir que a análise de risco vai além do uso governamental para estipular medidas mitigatórias de proteção à saúde animal, vegetal e pública. Trata-se de uma ferramenta de gestão aplicável aos processos produtivos para prevenir a ocorrência de eventos que possam ter impactos negativos para o agronegócio.  

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