Por Luís Gustavo Corbellini, 2 de junho de 2022.
“Sistema de vigilância”, “sistema de monitoria e vigilância” (MOSS, do Inglês Monitoring and Surveillance System) ou simplesmente “vigilância epidemiológica” é um procedimento chave para identificar precocemente qualquer sinal de alteração na saúde em uma população.
No Brasil, temos um exemplo interessante da vigilância epidemiológica no âmbito da saúde pública, que é a vigilância da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) que monitora a incidência de complicações da síndrome gripal. Foi através desse sistema que pesquisadores da Fiocruz relataram um aumento de casos de SRAG acima do esperado a partir da semana epidemiológica 7 do ano de 2020, antes da detecção do primeiro caso de COVID-19. Ou seja, esses casos estavam provavelmente relacionados com infecções por SARS-CoV-2. No entanto, nenhuma ação preventiva precoce foi tomada naquele momento.
A vigilância deve servir para um propósito essencial: gerar informações úteis para a gestão de programas sanitários, ou seja, para a tomada de decisão. As informações geradas devem ser disseminadas às partes interessadas para que ações previamente programadas sejam tomadas. Vigilância sem ação não tem utilidade.
Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos (Brasil, Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, art. 6º, § 2º).
Um trabalho publicado por Sousa e colaboradores (2017) monitorou dados de produção de granjas de matrizes com o objetivo de detectar surtos da Síndrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos (PRRS). Eles concluíram que o monitoramento e análise contínua de indicadores de produção – número de abortos – permitiu detectar a ocorrência de surtos de PRRS até 4 semanas antes de serem reportados pelo Projeto de Monitoramento da Saúde Suína nos EUA (MSHMP, do Inglês Morrison’s Swine Health Monitoring Project).
A principal finalidade da vigilância, como exemplificado no trabalho de Sousa e colaboradores (2017), é detectar a ocorrência de doenças, síndromes ou fatores de risco para auxiliar na tomada de decisão sobre medidas de prevenção e controle de doenças ou, ainda, a mitigação do risco de forma precoce e coordenada. Além disso, a vigilância é um processo orientado a dados e, a boa gestão desses dados, é fator chave de sucesso para qualquer programa de vigilância.
Algumas questões fundamentais para o desenvolvimento de um sistema de vigilância eficiente são:
Um programa de vigilância pode ser desenvolvido pela agroindústria para a gestão de inúmeras doenças, existindo muitas possibilidades para a sua aplicação. Além do exemplo de PRRS citado anteriormente, a vigilância pode ser aplicada na agroindústria para auxiliar no uso racional de antibióticos, para o controle da salmonelose ou de doenças que podem ser monitoradas durante o abate.
Dessa forma, a vigilância é uma ferramenta essencial não só para a saúde pública ou para o controle de doenças no âmbito de um país, mas também plenamente aplicável e útil numa agroindústria.
Leia mais artigos como esse no blog da Corb Science:
Salmonella parte 1: Correlação entre higiene no abate de suínos e o isolamento de Salmonella spp.