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Peste Suína Clássica: os riscos para a suinocultura brasileira de uma doença presente no Brasil

20 de maio de 2022

Luis Gustavo Corbellini, Médico Veterinário, Doutor em Epidemiologia

O vírus da Peste Suína Clássica (VPSC) é o agente etiológico da Peste Suína Clássica (PSC) e pertence ao gênero Pestivirus da família Flaviviridae. Os únicos hospedeiros naturais deste vírus são os suínos domésticos e os javalis. Focos de PSC foram detectados recentemente no Ceará e no Piauí, regiões consideradas não livres da doença. 

A PSC pode afetar suínos de todas as idades, sendo os sinais clínicos notados principalmente em leitões. O período de incubação leva de 2 a 14 dias e os animais infectados podem espalhar o vírus com alguns dias de infecção, antes de demonstrarem os sinais clínicos. 

Na condição aguda, os sinais clínicos iniciais incluem: anorexia, letargia, conjuntivite, sinais respiratórios e constipação seguida de diarreia. Quando cepas leves do VPSC estão causando a doença, pode ser difícil diferenciar da Peste Suína Africana (PSA), da Síndrome Reprodutiva e Respiratória Suína (PRRS), Síndrome da Dermatite e Nefropatia Suína (PDNS) ou, ainda, de infecções causadas por bactérias do gênero Salmonella.

Suínos são geralmente infectados por inalar ou ingerir o vírus, denominada rota oro-nasal. Durante a infecção aguda os animais podem excretar grandes quantidades do agente infeccioso em suas salivas, bem como na urina, fezes, sêmen, secreções oculares e nasais. Dessa forma, a doença pode ser transmitida pelo contato direto ou indireto por meio de objetos contaminados ou pelo sêmen, por exemplo. Os porcos asselvajados podem servir de importante fonte de infecção para a população doméstica.

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

O Programa Nacional de Sanidade dos Suínos (PNSS) do Ministério da Agricultura (MAPA) tem como um de seus objetivos evoluir no processo de erradicação da doença na zona não livre (ZnL) e, para atingir essa meta, em 2019 foi lançado o Plano Brasil Livre de PSC. O Brasil possui uma região em processo de erradicação em Estados do norte e do nordeste, bem como uma ampla região livre de PSC certificada pela Organização Internacional de Saúde Animal (OIE). Importante destacar a Zona Livre (ZL), onde encontra-se grande parte da suinocultura comercial Brasileira (Figura).

A presença da PSC no território brasileiro traz riscos para a suinocultura brasileira e podem ser previstos e mensurados em dois cenários principais: 1) Impactos econômicos diretos devido a presença da doença na ZnL, com perdas causadas pela mortalidade nos rebanhos afetados e pelos custos para a eliminação dos focos; 2) Impactos econômicos indiretos causados pela reintrodução da doença na ZL.

A grande incerteza do segundo cenário é com relação ao tempo necessário para recuperar o status sanitário perante a OIE caso a doença seja introduzida na ZL. Durante o período para a retomada do status sanitário poderá haver bloqueio nas exportações, resultando em perdas econômicas significativas. De acordo com estimativas realizadas pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em 2018, as perdas poderiam variar de R$ 1,3 a R$ 4,5 bilhões, considerando diferentes cenários.

A erradicação da doença na ZnL é parte de um projeto iniciado neste ano, conduzido pelo MAPA, em parceria dos Estados, do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e da Corb Science Solutions. A Corb Science está imbuída nesse processo, participando do projeto que visa auxiliar os Órgãos Oficiais da Defesa Agropecuária a identificar a melhor estratégia para erradicação da doença na ZnL. 

O trabalho será desafiador, considerando o baixo nível de tecnificação da produção na região, o trânsito e abate ilegal de suínos, para citar alguns. Um dos objetivos do trabalho será estruturar um problema de decisão multicritério para escolher o modelo de erradicação/vacinação que melhor atenda às necessidades de todos. A participação das partes interessadas neste processo, sejam organizações públicas e/ou privadas, será fundamental para a identificação da melhor estratégia para a erradicação da doença, que inclui: a vacinação, o incremento da vigilância, a comunicação e a educação social.

É um orgulho tremendo poder contribuir com essa importante missão, colocando em prática todos os ensinamentos acumulados em 20 anos de academia!

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Decisão multicritério – aplicação no campo da saúde animal